domingo, 16 de novembro de 2008

O LADO AMARGO DO AÇÚCAR

Ontem de manhã, ouvi uma reportagem na CBN sobre uma pesquisa feita a respeito dos trabalhadores da indústria canavieira de São Paulo, ou seja, da indústria do etanol, uma das mais ricas e promissoras "deste país", como diz nosso presidente. Fiquei estarrecida com os dados da pesquisa que diz que os trabalhadores são obrigados a trabalhar, em média, 10 horas por dia( pois há o tempo de transporte, geralmente maior que 1 hora), sem registro em carteira e sem nenhuma garantia se sofrerem algum tipo de acidente de trabalho. O que não é raro! E quando há casos de invalidez não conseguem se aposentar. E pensar que tem gente por aí que se aposenta por muito menos. Menos que um dedinho mindinho até. Também foi dito que eles têm a meta de cortar e empilhar dez toneladas de cana de açúcar por dia, por 2,92 reais a tonelada, portanto, menos que 30 reais por dia. E se não atingirem esta produtividade correm o risco de ficarem desempregados. Nossos bóias-frias estão se submetendo a uma escravidão, que, pelo jeito, sobreviveu à lei Áurea. E não temos mais princesas, viu?.É uma situação de completa degradação e desvalorização da vida humana, inaceitável em qualquer que seja o setor econômico, ainda mais quando se fala de um dos setores mais ricos da agricultura e do estado mais rico também. Imaginem o que deve acontecer nos escafundós do Brasil. E me parece que tudo tende a piorar com a mecanização da colheita que ameaça ainda mais o emprego dessas pessoas tão sugadas e sofridas. E ainda não acabou: com a produção da cana de açúcar transgênica que é mais leve e mais doce, esta meta absurda de 10 toneladas por dia deve aumentar. São pessoas que não têm nenhuma perspectiva, nenhum estímulo, nenhuma graça em viver. Por outro lado, aqui na cidade grande, qualquer flanelinha, qualquer um que fique nos faróis por algumas horas por dia já consegue faturar mais que esses miseráveis trabalhadores.
Será que somos mesmo os seres superiores que pensamos ser? Isso não é ser humano e muito menos superior! Está longe disso! Não acredito que as autoridades deste estado tão rico não saibam que isto esteja acontecendo debaixo dos nossos narizes! Cadê a turma dos Direitos Humanos? Só querem defender bandido?
Na minha modesta opinião, quem consegue fazer tal coisa e dormir tranqüilo não tem denominação! É estarrecedor! Me dá até um aperto no estômago! É nojento! "E UMA VERGOOOONHA"!!!!!
Não entendo nada de economia, de administração, nem de lucros! Mas entendo que não se pode espezinhar assim qualquer que seja a espécie de vida nesta Terra!Tudo que é feito sem sentimentos, sem olhar o outro, sem escrúpulos só pode vir do mal. E olha que eu nem estou botando Deus no meio da conversa, heim?
Não posso acreditar que para se ter a doçura da cana na nossa mesa, tenhamos que pagar por esse preço tão amargo...tão rançoso...tão canalha...

OUTRA PRO VOVÔ

No encosto do sofá, sentadinha,
assistindo à TV Tupi,
fazia mil penteados
em sua cabeleira já branquinha!
Quanto tempo ja vai aí!
E naquela pouca idade,
eu nem me importava
se isso o irritava.
Hoje sei que lhe agradava o cafuné,
pois entendo agora o que ele é:
Por fora, bem valentão,
que não disfarça o coração.
Este sim, bonachão!
Que nada nega a ninguém,
mesmo que não tenha também!
Com as travessuras dos netos,
não era lá paciente,
e, às vezes, ameaçava
passar a cinta na gente.
Mas era só ameaça!
No fundo, fazia era graça:
"- Pera, tu! Se cair ainda apanha!
Mas, nós, sabendo da manha,
estávamos sempre naquela horta,
fazendo a maior bagunça
bem em frente à sua porta!
E nas férias?
Quando acordávamos tarde?
Era aquele alvoroço!
E ele, bravo, falava:
"- Às 10 horas, nesta idade,
já tinha cumidu trêis armoço"!
Quanto tempo!
Mas, nesta distância que nos impomos,
Vejo o quão próximos somos
e o sinto tão presente,
sempre influente!
Fecho os olhos para vê-lo melhor
e mesmo que eu me esforce
não consigo vê-lo só!
Ao seu lado sempre vem
a figura da vovó:
tão forte e tão meiga!
Que dupla mais bem feita!
Será que ela é perfeita?
Se tem defeitos, não os vejo!
E o que eu mais desejo
é que caminhem sempre assim,
lado a lado,
sendo o grande elo dessa nossa engrenagem,
que gira com força e coragem!
Aquela importante peça,
que, às vezes, enrosca, tropeça,
mas nos motiva a vencer...
momentos difíceis, de tristeza...
mas de dignidade e beleza!
Como as nossas montanhas azuis, infindas...
Não são seus altos e baixos
que as fazem assim tão lindas?

Thais Rosa Bustamante- 12/06/1995 Quando ele fez 90 anos, logo depois da partida "fora du cumbinadu" da nossa querida tia Mainha