quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

PERSONALIDAES III - VOVÓ CHIQUINHA

Hoje faz 7 anos de saudades dessa vovó.

ALMA DE ARTISTA

Não me lembro de vê-la quieta,
Acabrunhada num canto,
Mas do canto soando sereno
Saindo solto em acalanto.

E com o canto, o bandolim!
Soltando seus suaves sons.
Vovó sempre será assim
A provocar-se por seus dons.

Eu nunca a vi de batom.
E sempre me perguntava:
- Vaidade não é bom?
E então me encabulava...

Aos poucos, fui entendendo
Que lá, nos seus pensamentos,
Ela usa a maquiagem
Que embeleza sentimentos.

Artista nata, a todo instante,
sempre contando as proezas
De um tempo que, mesmo distante,
Me inspira delicadezas!

Fala em versos, três por quatro!
Canta, declama, interpreta!
Pois fazia até teatro,
Sua arte predileta!

Garra e força tamanhas
Eu ainda estou por ver.
Nem coração e suas manhas
Apagam seu jeito de ser!

Escrevi quando fiquei com a vovó no hospital, numa de suas internações por problemas cardíacos, em 1997 , aos 87 anos, e ela falava o tempo todo,contando as suas histórias, cantava, declamava poesias, brincava com as enfermeiras...
O negócio dela era fazer as pessoas rirem! E conseguia!

Depois ela foi acometida do mal de Alzheimer...

Vovó não reage...
Não tem mais brilho nos olhos...
Não tem alegria no olhar...
Não tem olhar expressivo...
Não tem expressão nas palavras...
Não tem palavras de carinho...
Não tem carinho nas mãos...
Não tem mãos que fazem música...
Não tem mais música no ar...

Depois... ela se foi... em 9 de fevereiro de 2001...

RAIZ

Ouso falar de saudade
Mesmo após os consagrados poetas.
Um sentimento que invade
Provocando emoções secretas:

Melancolia tristonha,
Lágrima que cai teimosa!
Lembrança que emerge e enfronha...
Uma risada gostosa!

Meu tempo está caminhando
Traçado por livres sonhos.
Sem planos vai realizando
Os caminhos mais risonhos!

Tive sorte e agradeço
A vida que tive até aqui.
Sinto apenas que entristeço
Pelas vidas que perdi.

E a saudade é constante
Mesmo quando se é feliz.
Quando se vive distante
Não se esquece da raiz.

Thais Rosa Bustamante- março de 2003

Nenhum comentário: