sexta-feira, 30 de novembro de 2007

PERSONALIDADES I

VOVÓ NICOTA

Minha bisavó Nicota, mãe do meu vô Zé Rosinha nos deixou quando eu tinha uns dez anos. Mas eu me lembro dela claramente e de suas brincadeiras bem humoradas, da sua mania de dizer que não enxergava nada e ao mesmo tempo sempre achava algo pequenino perdido no chão. Usava o cabelo sempre preso com "ramonas"(grampos) num coquezinho típico das velhinhas da época e os vestidos com estampa miúda franzidinhos na cintura(pelo menos é assim que ficou na lembrança).
Quando nós, os bisnetos, passávamos uma temporada na casa do vovô, geralmente nas férias, ela sempre trocava os nossos nomes. Mas eu achava que era de propósito só pra fazer a gente rir. O meu era Gertrudes e eu achava engraçadíssimo!
Ela nasceu no final do século XIX e pra ela foi difícil acompanhar a evolução dos tempos. Na roça em que nasceu, nem preciso dizer que tudo era feito artesanalmente,a duras penas: a lida na roça, colheitas manuais, bolos e pães batidos no muque, roupas lavadas e passadas com aquele ferro pesado cheio de brasa, escovão para dar brilho no chão, fogão à lenha e etc, etc, etc...( Putz! Como eu tô véia! Eu me lembro de tudo isso!)
E ela, em pouco espaço de tempo, viu desfilar na sua frente luz elétrica, água encanada,fogão a gas, batedeira, enceradeira, aspirador de pó, telefone, vitrola, rádio, televisão...
Ah!!! A TV!!! Este é um capítulo à parte!Nós todos nos divertíamos com suas conclusões mágicas e lúdicas!!
Estávamos almoçando na casa do vovô e a "netaiada" espalhada no sofá, no chão e com o pratinho na mão e assistindo à TV. Passava Rintintin na TV Tupi. Foi quando ela veio lá da copa e da "pordasala", que ficava do lado da "táia di barro", disse meio "braba":
- Ô gentchi!! Disliguessitrem um pôco qui essi povu aí da televisão qué armuçá tamém,uai!!!
Será que ela falava sério? Nós, os caipirinhas modernos, nos perguntávamos. E sempre ficava esta dúvida...
Outra foi quando a tia Anita trocou o móvel da televisão, que era uma cômoda enorme, por uma mesinha:
- Nita! Essa mesinha num vai güentá essa televisão, Nita!
- Vai sim, vó! A mesinha é pequena mas é de ferro!
- Num vai, Nita! Essa mesinha dismilingüida num vai güentá!
- Vai sim, vó!
- Güenta agora Nita, mai na hora qui aquela cavalada du Durangu Kid passá aí, essa televisão vai pulá nu "meidasala"!!!
Os que têm mais de 40 anos vão se lembrar desta propaganda de sabão em pó Rinso( ai como eu tô véia!)ou reclame como se dizia na época: o marido chega em casa do trabalho e o seu cachorro, um pastor alemão, corre ao seu encontro e suja a camisa branca com suas patas. Em seguida aparece a esposa no tanque, esfregando a camisa e dizendo:
- Ai, meu Deus! Dai-me forças!
Daí começa a musiquinha e o locutor dizendo que com o novo sabão em pó Rinso não precisa mais fazer força para lavar a roupa!!!
Depois de várias reprises o vovô comentou:
- Mai qui muiézinha mais injuada! Pra lavá uma camisa fica pidinu força pa Deus!
- Mai Zé!Ocê já viu u tantu de veiz qui essi homi chegu'im casa e essi cachorru suja a camisa dêi?(dele)
Tá certu né,vó?
Em 1969, quando a Apolo XI ( para o Otávio, Apolo chi) aterrissou na lua, estávamos todos acompanhando aquele "feito da humanidade"(e que eu acho que não tem utilidade nenhuma e com gastos astronômicos desnecessários) quando ela passa pela sala, arrastando seu chinelinho e foi lá pro alpendre. E lá ficou por alguns instantes. Dali a pouco ela aponta na "pordasala" e arremata:
- Ô gentchi! Issu tudu aí é "pantomima"! Eu tô aqui fora oiânu a lua e num tô venu nada di diferenti acontecenu lá!!
Assim era nossa vovó Nicota!!
Thais Rosa Bustamante-nov-2007

3 comentários:

Luciana disse...

Me lembro bem da Vó Nicota, sentada na cadeira no canto da cozinha. Uns dizem que foi ela que me chamou de Sebinho pela primeira vez, eu acho que foi o Tio Pena.

Thais Rosa Bustamante Miranda disse...

Então,Hernani!Foi nessa época em que ela ficava trocando os nossos nomes pra fazer gracinha é que surgiu o seu apelido.Agora não lembro de quem falou primeiro:se foi ela ou se foi o tio Pena.

heloise disse...

Me lembro bem da Vó Nicota, ela era mesmo o máximo. Que saudade que bateu daquele tempo! Acho que também estou ficando velha.
Heloise
20 de dezembro de 2007 17:45